A consistente queda da taxa básica de juros brasileira, a Selic, na prática obrigou os investidores a procurar ativos além do mercado de renda fixa local para melhorar os rendimentos. Nesse contexto, tem crescido o interesse pelas ações negociadas na bolsa, mas o cenário também ficou mais propício para os investimentos no exterior. Eles representam uma alternativa para obtenção de ganhos e para a diversificação geográfica dos riscos.
Essa via de investimento até há bem pouco tempo ficava restrita pela regulação aos chamados investidores qualificados, aqueles que têm carteiras de pelo menos R$ 1 milhão. Mas em 2020 a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado de capitais brasileiro, decidiu flexibilizar o acesso a investimentos no exterior, por meio da Resolução CVM 3/20, editada em agosto de 2020.
BDRs ao alcance do investidor de varejo
A CVM abriu espaço para que os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) pudessem passar a fazer parte das carteiras de investidores de varejo, desde que respeitadas algumas condições relacionadas aos mercados de origem. Os BDRs são recibos de ações de empresas listadas em mercados estrangeiros que podem ser comprados e vendidos na bolsa brasileira (B3).
A mudança deixou ao alcance dos investidores de menor porte no Brasil ações de grandes companhias que não estão na B3 — casos de Apple, Alphabet (Google), Microsoft, Facebook e Amazon, só para ficar nos exemplos das maiores techs. Além disso, a via do BDR permite que os investidores de varejo coloquem nas suas carteiras empresas de setores consolidados e de segmentos que estão em plena expansão, como os de healthtechs (startups de saúde) e de games.
A partir da liberalização da CVM, gestoras brasileiras também puderam passar a oferecer investimento no exterior por meio de fundos, incluindo estratégias com ações, moedas, juros e outros ativos de renda fixa, como títulos do Tesouro americano.
Estratégia para redução de riscos
O investimento no exterior compõe uma estratégia de redução de riscos, à medida que deixa as carteiras menos expostas ao chamado risco Brasil. Segundo especialistas, uma das grandes vantagens de se comprar ativos estrangeiros é o fato de eles favorecerem a diversificação geográfica. Ou seja, os investidores ficam expostos aos “riscos” de muito mais mercados, o que ameniza a importância de cada um deles para a carteira de investimentos.
O desafio dos investimentos no exterior está concentrado na educação financeira dos investidores (que precisam fazer boas escolhas) e no aprimoramento da prestação dos serviços de gestão, para que os aportes sejam feitos de maneira responsável e segura, sempre de acordo com as regras estabelecidas pela CVM. Também está na agenda uma flexibilização ainda mais intensa das normas regulatórias, que deve surgir à medida que esse tipo de investimento for se desenvolvendo no País.