Juros negativos funcionam como um estímulo ao consumo e, consequentemente, à inflação. O poder de compra do dinheiro aplicado em títulos remunerados pela Selic nos últimos 12 meses, mesmo com os juros, é menor do que em abril de 2021.
Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) marcada para terça e quarta-feira da semana que vem, 3 e 4 de maio, não há dúvidas de que a Selic vai subir. O próprio BC já havia indicado na reunião de março uma elevação de mais um ponto percentual para 12,75% na reunião de maio.
Mas o BC está perdendo a corrida contra a inflação, os juros negativos realimentam o dragão. O mercado já esperava, antes do IPCA-15 deste mês sair, que o ciclo de alta de juros não termine em 12,75%.
Na sexta-feira passada, 22/4, o ponto médio das expectativas do mercado, segundo a pesquisa Focus do BC, era de que a Selic termine o ano maior do que isso, em 13,25% e ao fim de 2023 esteja em 9%, enquanto o IPCA feche 2022 em 7,25% e baixe para 4% em 2023. Todas essas projeções devem subir com os resultados do IPCA-15.
Uma boa parte dessa inflação vem de choque externo, contra o qual o BC não pode fazer nada. A alta dos juros busca evitar que a inflação se espalhe nos setores domésticos e permaneça alta quando o choque externo acabar.
A meta de inflação para este ano, com teto em 5%, já está perdida. O BC, por enquanto, tem focado na de 2023, que tem centro em 3,25%. O risco de deixar alta a parte da inflação atual que se tornará permanente recomenda que a política monetária seja ainda mais restritiva.
Vale notar que os níveis atuais de inflação se aproximam da época inicial de estabilização com o Plano Real, após a hiperinflação, mas ainda de grande combate contra a ameaça de volta a ela. O IPCA-15 deste mês foi o maior para abril desde 1995.